segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

cuidado, desvelo...


solicitude,
2006, óleo s/ tela, 60x120 cm

Ora cuidar me assegura,
ora me matam cuidados.

Foi ser a vontade minha
de todos tão desviada
que me não afirmo em nada,
pois tenho o mal que tinha.
O bem que tinha me enfada.
Isto é força da ventura
- se não me engana o que cuido -
que tais extremos mistura
que ora o meu próprio descuido,
ora cuidar me assegura.

Diversas cousas me pede
o meu desejo inquieto:
umas nego, outras prometo;
mas contudo me sucede
perder-me no que cometo.
Como será dos meus fados
a tenção favorecida,
se para males dobrados
dão-me ora cuidados vida,
ora me matam cuidados?
Luís Vaz de Camões

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