quarta-feira, 24 de outubro de 2007

do eterno - a nu



Cecilia e António, Alentejo, 1974



Peguei numa fotografia dos meus pais.

Uma fotografia que sempre me fez lembrar a tela Cócegas do Malhoa...
talvez por isso tenha sido uma das minhas primeiras aventuras a óleo.

"Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços..."
Florbela Espanca

cópia de Cócegas de José Malhoa,
2004, óleo s/tela, 50x40cm

Olho a fotografia e sou esmagada pela manifestação de que nada é eterno. Reconcilio-me com a dor dessa evidência.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Não Somos Só Palavras*




s/título- série excertos,
2007, acrílico e colagem s/tela, 30x30cm cada elemento


De sentimentos decorados
Com letras por pendurar.
Tatuamos o corpo com histórias intermináveis.
Não vivemos só em fios
Cortantemente estendidos
Entre as vozes mudas de cada um.
Percorremos o som de cada Teia.
Não usamos máscaras feitas à medida
Do abismo que se encerra
Labirinticamente dentro de todos nós.
Herdamos o fio de Ariadne.
Não descemos os mesmos degraus
Que se alojam discretamente
Nas ruínas das nossas almas.
Colocamos novas pedras na Torre de Babel.
Não apagamos a lua da noite
Quando amamos, em segredo,
A luz do dia que nos desperta.
Procuramos sempre o momento exacto.
Não queremos mais do que a dose certa
Da vida servida a quente
Sobre o prato frio da morte como vingança.
Vivemos o amanhã no dia de hoje.
Não sabemos tudo o que queremos
Mas despimos o corpo da ignorância
Quando nos reflectimos perante as questões.
Descansamos na doce esperança.
Não temos o que queremos
Porque encetamos uma luta diária
A cada esquina do amanhecer.
Adiamos a perfeição.






Entre o real e o engano
Entre a porta e a janela
Entre a fuga e a prisão
Entre a pausa e o movimento
Somos o mesmo e múltiplo ser humano.




Não sabia qual escolher.
Cá dentro já ecoavam estas palavras.
Ontem, tomaram estas cores e estas formas.
Assim foi mais fácil, será este!
Espero que gostes :)